O teatro, nesse primeiro momento, limitava-se a uma série de odes e danças em
torno da imagem de algum deus, na maioria das vezes, o próprio Dioniso. Daí por
diante surgiram os primeiros textos teatrais. As artes
dramáticas passaram a ocupar um espaço maior na cultura grega e com o passar do
tempo, sendo aceita e consequentemente tornando-se mais acessível aos cidadãos,
caindo no gosto do povo e dessa forma a arte cênica passou a ser o principal
entretenimento.
Tragédia
Surgiram então
diversas fábulas e histórias para serem encenadas ao público. Essa forma
inusitada de comunicar as histórias dramáticas ficou conhecida como Tragédia
Grega (tragoi= bode + oidés= canto), realizada nos sacrifícios onde os
“atores” utilizavam máscaras e túnicas para interpretar seus papéis. A tragédia
passava-se em uma ampla plataforma chamada Proskénion (proscênio) de frente
para o Théatron (plateia).
As
Tragédias Gregas trabalhavam com o lado emocional do ser humano, o oposto do
racional, além de ter uma grande preocupação com o aspecto visual cênico com
efeitos obtidos pelas indumentárias (figurinos), o frequente uso das máscaras
que distinguia claramente os personagens e de um recurso para calçar os pés
denominado coturno, uma forma de calçado cênico para dar efeito de projeção
quantitativa na estatura do ator que ficava bem distante das últimas fileiras
da plateia. As
apresentações cênicas eram compostas por um coro que narrava e tecia
comentários a respeito da história central que era interpretada pelos atores
principais. As Tragédias foram escritas por homens que marcaram seus nomes na
história da humanidade. Os mais conhecidos são: Ésquilo (525 a.C.– 456 a.C.) autor de “Os
Persas”, “Prometeu Acorrentado” e das Trilogias: “Oréstia- ‘Agamenon’, ‘Os
Coéforos’, ‘Os Eumênides’”, “Sete Contra Tebas: ‘Laio’, ‘Édipo”, ‘Sete Contra
Tebas’”, etc; Sófocles (495 a.C. – 405 a.C.), autor de “Édipo
Rei”, “Antígona”, “Electra”, etc e Aristófanes autor de “As Nuvens”, “Plutão”, “As
Rãs”, etc; Eurípedes(485 a.C. – 406
a.C.) autor de “Alceste”, “Ifigênia em Tauride”, “Medéia”, “Hipólito”,
“Andrômaca” “As Troianas”, etc. Esses autores buscavam passar para o público a
visão divina da natureza, expressavam a imagem dos deuses e as crenças do povo.
Comédia
Por incrível que pareça a comédia
trabalha com o lado racional de nosso cérebro, pois ao analisarmos uma atitude
descomedida, fora dos padrões naturais é que achamos graça, ação do pensamento
lógico. Assim como na tragédia, a comédia surgiu das cerimônias Dionisíacas
denominadas procissões Phalliká, ligada ao ato da
reprodução e da vida que, segundo Aristóteles eram cortejos fálicos, também
chamadas de Komoidía, formada por komoi (rural, do campo, e
também perambulação) + odés = canto rural, canto perambulante, ato intrinsecamente ligado aos ciclos da agricultura e da
fertilidade humana.
A
primeira escola grega de comédia surgiu fora da metrópole na Sicília, onde Epicarmo (530 a.C. - 440 a.C.) adquiriu a
fama de fundador do gênero no mundo grego. A
comédia foi inclusa nas Grandes Dionisíacas somente por volta de 488 a. C.
sendo considerada inferior a tragédia, situação comprovada pela divisão dos
júris nos espetáculos teatrais em Atenas, onde ser escolhido para compor a
banca de jurados da tragédia era sinal de nobreza, enquanto o júri da comédia
era formado por cinco pessoas escolhidas aleatoriamente na plateia.
A comédia era um gênero de
crítica social contundente que abordava o cotidiano, os costumes e as tradições,
comumente criticados e satirizados, não muito diferente das comédias
contemporâneas. Dentre os principais autores podemos citar: Aristófanes (445
a.C. – 385 a. C.) escreveu “A Paz”, “Lisístrata”, “A Assembleia de Mulheres”,
“Os Cavaleiros e Plutos”, etc; Menandro (340 a.C – 292 a.C.) autor de “O
Intratável”, etc. O auge das comédias culmina com as obras de Aristófanes e Menandro,
atingindo a decadência com a dominação dos macedônios. De sua origem até o
declínio, a comédia grega passa por três períodos:
·
comédia antiga – o autor mais importante é
Aristófanes, porém outros nomes fazem parte deste período – Cratino, Êupolis,
Crates, Ferécrates e Magnes – estendeu-se aproximadamente de 500 a. C. - 400
a.C. com ênfase na sátira política, transpondo as linhas do impessoal ao
admitir personagens do cotidiano ateniense com uso do coro e da parábase
·
comédia intermediária – período que
entre 400 a. C. - 330 a. C, acontece uma importante fase de transição em que o
coro desaparece. A peça “Pluto” de Aristófanes data desse período, bem como
outros autores como Aléxis e Antífanes. Foi por volta desse período,
aproximadamente 350 a. C. que surgiu um gênero intermediário de comédia que
parodiava as tragédias, intitulada Hilaros
·
comédia nova – período que se inicia por
volta de 300 a.C. com o destaque do autor Menandro, bem como outros autores
como Dífilo e Filémon. Acontece nesse período uma profunda mudança do gênero, o
surgimento de personagens fixos que substituiu a sátira política ao abordar o
cotidiano de pessoas menos influentes, porém com certa fama na sociedade, ao
invés dos políticos, militares e outros que perpetuavam de má fama

Surge também nesse ínterim o Drama Satírico, uma espécie de tragicomédia, um tipo de peça
burlesca que era apresentada após a trilogia trágica com um personagem central,
geralmente um dos heróis trágicos vistos na trilogia precedente, era
caricaturado numa situação ridícula qualquer, criticado por um coro vestido de
sátiros (personagens mitológicos meio-homem, meio-cavalo que formavam a corte
de Dionísio). O mesmo autor da trilogia é quem escrevia os dramas satíricos,
como parte integrante do concurso trágico. Utilizava-se de um gestual muito indecente.
Elementos do Teatro Grego
·
arconte - o principal magistrado civil de Atenas, era quem administrava
o mega Festival anual onde eram realizados os concursos dramáticos
·
corego – homem de
posses, assumia a função de produtor responsável pelas despesas referentes ao
coro, músicos, figurinos e adereços, enquanto o Estado era responsável pela
manutenção dos teatros, premiação e pagamento dos atores
·
indumentária – são os figurinos, trajes
ou roupas, comumente chamados, eram usados pelos atores para dar virtuosismo aos
seus personagens, facilitando as representações femininas por homens, uma vez
que a mulher não podia pisar no palco
· máscaras – elemento altamente simbólico, eram feitas de couro, pano
modelado ou madeira, confeccionadas para projetar a voz com mais potência, além
de ajudar a identificar os personagens masculinos e femininos. Elemento
altamente sagrado, não era permitido que um ator adentrasse ao espaço sagrado
de teatro sem sua máscara
· coturno – calçado projetado com uma sola de aproximadamente trinta centímetros
de altura, usado pelos atores trágicos, ocasionando efeitos de grandeza além do
humano mortal
· mimo – nomenclatura que designava os artistas improvisadores que se
apresentavam nas praças, grafia que também designa a produção teatral popular
grega
· personagem – palavra que deriva do grego: persona (máscara) e agon
(que debate, que “fala” por si, que se apresenta). Há a assunção de papéis ao
se passar por outro, não sendo ele mesmo com a máscara no rosto
· peripécia – leque de ações e fisicalizações que a personagem realiza no desenrolar
da peça,uma tendência natural dos ser humano para alcançar seus objetivos;
baseando-se em Hengel (1770-1831 A.D.)
·
mimeses – para Aristóteles é instintivo do homem a
imitação, é natural que o mesmo
reproduza a realidade que o circunda, através do processo de representação. Afirma-se,
normalmente, que o conceito de mimese corresponde à cópia, ver-imitar-aprender.
Entretanto, é importante lembrar que o conceito pressupõe um duplo olhar, com
Platão, o conceito aparece com certa conotação pejorativa, a mimese é concebida
como cópia, sombra, escravização do homem ao mundo das aparências. Já
Aristóteles contrapondo, desenvolve uma conotação conceitualmente positiva,
indicando uma mobilidade criativa na essência das coisas, um esboço, uma ideia
básica que caminha para a perfeição
Estética da arte dramática
Deve-se a
Aristóteles os primeiros estudos sobre a estética teatral, pois esse passo foi
importantíssimo para a organização da ação dramática nas encenações das
tragédias, buscando-se a perfeição cênica, encontrando seu sucesso no processo
catártico que conduzia o expectador em um processo de identificação da plateia
com o contexto dramatúrgico, uma forma tão eficaz que é utilizada até hoje para
cativar o telespectador nas novelas veiculadas pelos massivos meios de
comunicação.
O processo
catártico foi o meio pelo qual se cativou a plateia com os efeitos que se
perduram até hoje, inicialmente como expurgo no sentido restrito da palavra Kátharsis, uma forma de se purificar os sentimentos
ruins. Mais tarde como forma de
arrebatar a plateia todo um trabalho cênico de voz e expressão corporal
tornou-se necessário para “encurtar” a distância entre palco e plateia. A
catarse faz com que o público saia de alma lavada, com dois elementos básicos
criados por Aristóteles (384 a. C. - 322 a.C.), o protagonista (herói) e o
antagonista (vilão), utilizando-se de tramas e enredos entrelaçados de
componentes articulados e de formas intrigantes, envolvendo a ficção (mitos) e
a realidade (conjuntura social), buscando uma argumentação ética, através de uma
lição de vida e a moralidade
Com uma
observação meticulosa e alto nível de criticidade, Aristóteles desenvolveu a
partir da Poética os seguintes princípios:
· pensamento – de forma livre sua subjetividade
permite que a mente do autor expanda-se, compreendendo a sociedade de forma
atemporal, sem prejulgamentos, distante da realidade tátil, conectando o
contexto histórico a época vivenciada
· fábula – a pilastra base que se
aproveita de histórias próximas à realidade tátil, cujo enredo procura cativar
o espectador com começo (introdução)-meio (desenrolar)-ápice (clímax)-desfecho
(fim)
· caráter – personificação de
arquétipos, a base para a construção de qualquer história, a figura do
protagonista e do antagonista. A ideia de vilão e herói foi utilizada até o
século XIX, onde a partir de então surgiram à figura do anti-herói e do vilão
às avessas, o primeiro deixa em evidência o egoísmo, a vaidade, a vingança, as
fraquezas humana em detrimento das qualidades do herói trágico, já o segundo, o
vilão as avessas com um aspecto nada malévolo, acaba favorecendo suas
pseudo-vítimas com toda a sua atrapalhação, muitas vezes acaba sendo o
principal atingido pelos seus atos, ou até mesmo se convertendo para o bem. Alguns
exemplos: Anti-heróis: Dom
Quixote, O Justiceiro, Batman, Zorro – Vilões
as Avessas: Capitão Jackie
Sparrow, Gato de Botas, Dick Vigarista, Meu Malvado Preferido
· melodia – a tragédia utilizava-se da
melodia para acompanhar o texto poético nos intervalos entre dois atos. Somente
a partir do século XIX é que a música começou a fazer parte, dando ênfase em
determinado trechos importantes, sensibilizando e “preparando” a plateia para a
emoção de determinada cena, como por exemplo, a sonoplastia que se utiliza
amplamente de efeitos sonoros, trechos musicais, pausas, vozes em off, músicas
incidentais, etc
· linguagem – a função do dramaturgo
teve um papel fundamental na longevidade das obras teatrais e na difusão dos
textos dramatúrgicos por gerações até os dias de hoje, ajudando a escrever a
história do teatro, garantindo a representação de algo próximo à concepção do
autor, diferentemente do conhecimento compartilhado pela oralidade com uma
propensão maior para a subtração da ideia original e até mesmo central do
texto. O roteiro traz em si uma maior confiabilidade, como uma obra de arte
assinada por seu autor que pode retratar algumas ações ao utilizar as rubricas;
elemento que fornecem indicações cênicas, geralmente entre parênteses. Em
momento algum queremos dizer que é errado improvisar, como é o caso da Comédia
dell´Arte que se utiliza de um roteiro básico, o Canovaccio
· encenação – não queremos aqui
demonstrar se a direção é melhor que a encenação, ou vice-versa, queremos
mostrar apenas que existem diferentes formas de se assumir a concepção de um
espetáculo. A encenação no sentindo original da palavra nos remete a montagem
cênica identificada pela tríade: ação-tempo-local (o que? quando? onde?) que
interrela0ciona-se com as abordagens do autor. No entanto nossa
contemporaneidade nos trás estudos mais minuciosos sobre a encenação,
apresentando algumas diferenças entre a leitura do diretor textocêntrico e a
releitura do encenador que explora outras possibilidades ao transpor o texto
dramatúrgico sendo atemporal com foco no espaço, contrapondo-se ao teatro
verborrágico que se apoia nas rubricas do dramaturgo. É sabido que a direção
teatral também se utiliza de recursos cênicos (iluminação, sonoplastia,
figurinos, etc) para cumprir os pré-requisitos textuais, podendo também a
encenação utilizar-se dos mesmos recursos para ampliar ou contrapor a intenção
do autor, desconstruindo cenas e até mesmo levantando questionamentos do texto
em sim. Além dos elementos tradicionais que encontramos em uma montagem, o
encenador pode utiliza-se da ludicidade para conseguir a ação
físico-psicológica, exigindo dos atores a presença de corpo e alma ao
gestualizar, ampla ou minimante os macros e microgestos carregados de
significantes e significados, que vão da forma sublime ao grotesco. A
assinatura do encenador está na fragmentação do texto, muitas vezes com ênfase
no subtexto. Ao chegar sem nada pronto o encenador proporciona uma
imprevisibilidade no surgimento gradativo das cenas que são amparadas por sua
mediação nessa busca pelo mundo das possibilidades cênicas
BIBLIOGRAFIA
BERTHOLD,
Margot. História Mundial do Teatro; tradução J. Guinsburg, Clóvis
Garcia, et alii. 1ª Ed. São Paulo,
Perspectiva, 2001.
GASSNER,
John. Mestres do Teatro I; tradução e organização de Alberto Guzik e J.
Guinsburg, 3ª Ed. São Paulo, Perspectiva, 1997.
PAVIS,
Patrice. Dicionário de Teatro; tradução para a língua portuguesa sob a
direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo, Perspectiva, 1999.
TOZZI, Devanil, et alii. Teatro e Dança:repertórios para a
educação – linha do tempo, v.1. São Paulo, FDE, 2010.
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