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Ingresso |
“Peter Brook vê o
teatro como um meio de atingir o que nenhum outro meio é capaz: ‘Aqui está à
responsabilidade do teatro: o que um livro não pode transmitir, o que nenhum
filósofo pode verdadeiramente explicar, poder ser alcançando através do teatro.
Traduzir o intraduzível é um de seus papéis.”
Dia dez de fevereiro de dois mil e doze, as dez para as oito da noite em
frente ao TMI - Teatro Municipal de Ilhéus, um grande movimento
assolava o local. Nossa quem está em cartaz? Deve ser alguém muito conhecido e
famoso para se apresentar no teatro em plena greve da polícia e um medo
desenfreado que se instaurou pra essas bandas. Não me lembro da divulgação de
nenhum espetáculo de globais sendo anunciado pelos massivos e alienadores meios
de comunicação!!! O que será que está acontecendo; mais e mais pessoas surgindo
das ruas, vielas e passagens das proximidades do teatro. Pera ai! Não… Será?
Não pode ser!?!
Agora me recordo de ter visto os cartazes de uns atores chumbregas (na
visão dos telespectadores passivos da plim-plim) na semana passada que
anunciava o espetáculo “Pura Comédia” que não foi realizado devido ao “caos” e
sensação de insegurança e um acovardamento despertados nas pessoas pela mídia
sensacionalista. Não entendo, mas como poderiam eles em tão pouco tempo ter
avisado sobre o adiamento da peça para todo aquele público que ali se
aglomerava? Ali presentes, indivíduos sedentos, famintos por um evento que para
o bem estar social, contradiz o artigo da semana passada “A Sociedade do
Espetáculo: uma crítica aos espetáculos alienadores”. Será que os novos ventos
da mudança estão chegando e dissipando essa névoa obscura de ignorância e
incompetência?
Toca o primeiro sinal e a fila ainda não havia entrado, e, pra variar
alguns atrasados adentravam a platéia ao iniciar do espetáculo com a casa
lotado, menos mal, melhor que ter ficado em casa assistindo sua novelinha
pacificamente. Numa linguagem popular e satírica sob ininterruptas gargalhadas,
veementemente ovacionadas pela platéia, a CCAT - Cia. Casa Aberta de Teatro
abordou de forma irreverente as situações mais pitorescas de nossa sociedade
sem deixar de lado boas pitadas de uma crítica social, comuns a função da
comédia desde os seus primórdios na Grécia antiga com seus principais autores,
Aristófanes e Menandro, passando pelas Atelanas romanas, a Comédia dell´arte,
entre outras com o mesmo tom jocoso e hilariante de protesto através de várias
esquetes.
Na esquete o “Nerde”, abordou-se a situação do mercado de
trabalho, salientando a importância do primeiro emprego para o jovem, muitas
vezes usados pra apagar “incêndios” pela falta de mão de obra capacitada, além
da exploração de patrões que cada vez mais querem funcionários multifuncionais,
porém com um salário medíocre.
“Arrocha Brasil” contestou a questão dos gostos musicais
duvidosos, sem conteúdo e com gritinhos e “coreografias” reduzidas ao balanço
erotizado do quadril que inflama a platéia nos “shows da vida”. Além de abordar
a temática dos votos de cabresto que ainda andam muito em voga, muito comuns
aqui na região e que datam da época dos coronéis. O refrão do arrocha “Seu
voto vale R$1,00, pacote de feijão, pacote de arroz….” no palco deixou
claro por que a região não se desenvolve, continuando a míngua há décadas.
Na cena “Dona Maria”, uma senhora simples e trabalhadora,
empregada doméstica que já devia estar aposentada, retrata a exploração dessa
mão-de-obra pelas madames, filhas do cacau que sugam até a última gota de
sangue dessas pessoas honradas e honestas, mães de famílias.
Em “Chapeuzinho Vermelho” desmistifica-se o lado
inocente dos contos de fada, tratado da vulnerabilidade das crianças diante dos
meios de comunicação que exploram aleatoriamente e gratuitamente questões como
as drogas e a erotização, amplamente difundido por nossas mídias em horários
não tão nobres assim.
“Tota-tola” exemplifica claramente o estado
mental de pessoas mentecaptas a realidade, que deixam-se levar pelos conteúdos
subliminares contidos nas propagandas no meio midiático de forma geral, em
especial nesse caso, a televisão com grande poder de influenciar a opinião
popular, “roubando-lhes” a mente a todo tempo ao oferecer produtos de
obsolescência projetada ou programada e obsolescência percebida.
O jornal “Utopia Nacional” através da
metalinguagem, criticou duplamente os jornais televisivos que nada acrescentam
a mente das pessoas, além de retratar ipsis litteris cenário
político da região, o descaso do poder público com os serviços essenciais como
educação, saúde e segurança. Em especial uma crítica mais contundente foi feita
a atual administração pública de Ilhéus com projeções dignas do teatro de
vanguarda que mesclas as mais diversas linguagens audiovisuais à cena, parodiando
a propaganda do Governo da Bahia e pequenas reportagens in loco,
deixando em evidência as mazelas municipais como o transporte, a saúde, a
educação, o saneamento básico e o turismo, sendo o ultimo tema muito bem
retratado ao demonstrar o total descaso com nossos turistas e a falta de
infra-estrutura. O turismo é uma pasta de extrema relevância para o
município, o tema foi muito bem colocado, trazendo a tona o fato ocorrido
quando do esquecimento de Ilhéus na divulgação dos principais roteiros turísticos
da Bahia para a Copa do Mundo de 2014, por conta de uma divulgação do Governo
da Bahia no site: http://www.bahia.com.br/noticias/2012-01-06/bahia-tem-18-dos-destinos-turisticos-indicados-para-visitacao-durante-copa
Esse fato gerou uma forte mobilização do trade turístico ilheense
em uma campanha de descontentamento com o atual secretário que não tem
correspondido aos anseios deste mesmo trade.
O “Bandido Honesto” explicita a falta de
segurança numa sociedade a mercê dos bandidos, não só os criminosos, mas também
por aqueles que desviam sua conduta e ao invés de nos proteger, escondem-se
atrás de uma farda cometendo abusos, dos que deveriam cuidar de nossa economia
e que cometem crimes do colarinho branco, e a meu ver, os de pior espécie que
encabeçam o rol do mais baixo calão, nossos políticos corruptos com suas
falcatruas que se utilizam das brechas nas leis, criadas em benefício próprio.
PARABÉNS A TODOS OS PATROCINADORES QUE AJUDAM A DIFUSÃO DA CULTURA
LOCAL!!!
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