terça-feira, 24 de julho de 2012

Caminhos Híbridos da Educação Ambiental: o teatro como meio


Fragmentos da Monografia “Teatro e Educação Ambiental: expectativas renovadoras”

 “A natureza e o universo não constituem simplesmente o conjunto de objetos existentes, como pensava a ciência moderna. Constituem sim uma teia de relações, em constante interação. Os seres que interagem deixam de ser apenas objetos. Eles se fazem sujeitos, sempre relacionados e interconectados, formando um complexo sistema de inter-retro-relações.” Cf. BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. In: CARVALHO.  Isabel C. de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo, Cortez, 2004, p. 120

Desta forma pode-se ter uma compreensão multifacetada das inter-relações que constituem o biocosmos, impossibilitando assim uma só percepção sobre o modo de pensar e reorganizar o saber.

A especificidade da EA contemporânea é justamente a problematização das dimensões socioambientais. Vejo através do teatro a possibilidade de torná-las objeto de análise crítica, podendo-se levantar diferentes pontos de vista numa mesma situação, buscando múltiplos sentidos para a compreensão dos problemas ambientais, assumindo uma postura interdisciplinar, estabelecendo conexões entre as disciplinas, como por exemplo o uso da língua portuguesa que possibilita o uso de palavras até então não conhecidas pelos participantes, a biologia que trata sobre a vida, a história que resgata o passado de cada indivíduo, situando-o no presente e levando-o a refletir sobre o futuro. Nesse ponto o teatro é o agente aglutinador que permite compreender a complexidade das inter-relações nas questões socioambientais levantadas durante a aula.

A utilização do teatro como caminho híbrido reconhece o valor do conhecimento científico da natureza e de suas aplicações tecnológicas, tornando-os objeto de compreensão crítica. Despertando dessa forma uma grande expectativa renovadora no ensino da EA, deixando de lado uma posição de comodismo e parte para um processo que se utiliza de uma linguagem em construção permanente, sem uma receita pronta, assim como, as respostas que são dadas pelos alunos durante os jogos teatrais, o que evidencia novos modos de compreender, ensinar e aprender.
A construção do conhecimento é realizada durante a criação de respostas inesperadas e plausíveis. Tudo está imbricado nessa grande gama de questões socioambientais, portanto somente as diferentes visões críticas podem facilmente construir o conhecimento durante o processo.
O desafio gerado pela complexidade das problematizações ambientais levantadas durante o processo teatral é que vai servir de contrapartida para uma busca infindável de novas respostas.
Segundo o sociólogo Boaventura Souza Santos, os “conhecimentos híbridos” são as várias fontes de trabalho e pesquisa que na EA são problematizados para a compreensão das relações socioambientais. A EA crítica seria, portanto, aquela capaz de transitar entre os múltiplos saberes, sem a superação do prevalecimento do conhecimento científico, deixando em evidência outras formas de saberes, no caso desta linha de pesquisa, como agente aglutinador o teatro-educação. Cf. SANTOS, Boaventura Souza. Um discurso sobre as ciências. In: CARVALHO.  Isabel C. de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo, Cortez, 2004, p. 125
Em resumo, uma nova forma de EA deve ter seu conhecimento construído coletivamente com uma estrutura multidisciplinar, utilizando-se de uma linguagem interdisciplinar com ações transdisciplinares. Não podendo se ater a nenhuma área específica do saber. Tendo como alicerce uma sólida proposta pedagógica que visa à transformação dos indivíduos envolvidos, tornando-os seres esclarecidos quanto a sua parcela de responsabilidade na manutenção do planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOCH, Marianne N., PELLEGRINI, Anthony D.. The Ecological Context of Children´s Play. New Jersey-USA. Ablex Publishing Corporation, 1989.
CARVALHO, Isabel C. de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo, Cortez Editora, 2004.
 MEIR, Admond Bem. Consumo Sustentável, tradução de Além do Ano 2000: A Transição para um Consumo Sustentável” e “Elementos para Políticas em Direção a um Consumo Sustentável”. 2ª Edição. São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 1998.
OLIVEIRA, Nyelda Rocha de, WYKROTA, Jordelina Lage Martins. Ciências: Descobrindo o Ambiente. Vol. 1. Minas Gerais. Formato Editorial Ltda.

RODRIGUES, Robert Alexandre.Teatro e Educação Ambiental: expectativas renovadoras. São Paulo, 2004. 60 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Artes Cênicas) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.

SELANDER, Margareta, VALDIVIA, Luisa, et alii. Consumo Sustentável: Manual de Educação Ambiental, adaptação do “Manual de Educación em Consumo Sustentable”. Brasília. Consumers International/MMA/IDEC, 2002.

TELLES, Marcelo de Queiroz et alii. Vivências Integradas com o Meio Ambiente. São Paulo. Sá Editora, 2002.

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